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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Homenagem a J.D. Salinger


Uma carona a Holden Caulfield – Parte III (Final)

Jerome David Salinger: o criador de Holden Caulfield.
[...] - Então quer dizer que gosta mesmo de literatura, meu menino! – indaguei-lhe inebriado de sarcasmo. Há pouco, pensei que estava cometendo um erro em tratar-lhe mal, porém, esses camaradas são todos iguais. Chegam como quem não quer nada, com cara de coitado e, quando menos percebemos, já estamos dominados por eles. Acham que são os donos da verdade!
- Depois de três anos a gente se acostuma – respondeu-me com um sorrisinho cretino. Terceiro ano! Muito para alguém que suponho ter uns dezessete anos. Vinte no mínimo! Eu estava transbordando de inveja!
A essa altura já estávamos próximos de Stoneville e, enfim, iria me livrar do salafrário. De repente, um grito abafado pelo barulho do velho ônibus alcançou o fundo do veículo.
- Holden, atente-se, pois na próxima parada você deve descer – gritou Jones.
Stoneville ficava há uns dez quilômetros antes do colégio Springfield e já podia alcançá-lo com meus olhos. Holden levantou-se da surrada poltrona de couro onde estava sentado e encaminhou-se para a porta do lixão. Antes, porém, despediu-se cordialmente de mim – queria me dobrar de qualquer forma! – e esperou até que o veículo parasse totalmente.
Enquanto via-o descer do ônibus ficara imaginando em como eu estava entediado e irritado com aquela situação. Aquele dia horroroso, aquele metido de merda, aquela universidade de merda, a minha escola de merda, meu jeito neurótico de merda, aquele amontoado de merda… quase tive um esgotamento!
   Logo depois, cheguei a Springfield sozinho, com frio e úmido, o que me levou a pensar o porquê de estar ali! Meu colégio conseguia ser pior que o Berniston, no duro. Vai ver, este era o motivo pelo qual eu era expulso de todos eles. Eram todos uma droga, todos os sete em que estive.
Não iria aguentar assistir àquelas aulas idiotas. Pensei em ficar no ônibus dormindo, mas tinha gaita suficiente para me embriagar até a hora de voltar pra casa. Antes de ir para o Marshals – um boteco fedido que ficava nos arredores do velho Springfield – lembrei-me do Holden e quis que o safado estivesse aqui comigo. Sei que se tratava de um nojento, mas não precisaria ficar sozinho ou coisa que o valha.
Ao chegar ao Marshals, pedi ao garçom que me trouxesse uma dose de seu wiski mais forte. Revesti a garganta com um belo trago e fiquei ouvindo o terrível pianista que, sofrivelmente, tentava tocar.

30 de outubro de 2005.

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