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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Homenagem a J.D. Salinger

O conto que se segue abaixo é inspirado no livro “O Apanhador no Campo de Centeio”, do original “The Catcher in the Rye”, obra visceral de Jerome David Salinger. O mesmo subdivide-se em três partes para melhor estética e adequação a este blog, cada qual publicada em seu devido tempo. Aposso-me, portanto, do personagem mais famoso de Salinger, de sua personalidade vanguardista e de suas impressões sobre o mundo para criar algo relativamente novo, sem pretensas intenções ou arrogância vil. Com vocês, Holden Caulfield!  


Muito antes de Potters, Jacksons e sagas de vampiros,
Salinger já fascinava a juventude ao criar um anti-herói
imperfeito e cheio de excentricidades.
Uma carona a Holden Caulfield - Parte I

Não que este acontecido não seja crível, mas garanto que foi no mínimo inusitado! Chovia, era fim de tarde e tudo parecia cheirar a mofo. O ônibus pútrido no qual embarcava todos os dias à mesma hora atrasara por cinco minutos, fazendo-me arder em arrependimento. Enfim, quando apontou ao alto da Chelston Avenue tive certeza de que se tratava daquele pardieiro – reconheço de longe aquela lata velha de faróis quebrados! Estava realmente frio, tão gelado que fizera com que todos ficassem em casa naquele dia. Eu não! As segundas-feiras me deprimiam muito e eu não fazia o tipo caseiro, sobretudo, me via ali naquela joça, sozinho, com chuva e com as drogas dos faróis quebrados. O que poderia ser mais deprimente que isso?
O motorista – sujeito baixinho e bigodudo que emanava simpatia – que todos os dias me recebia com um baita sorrisão, esperava ansioso um cumprimento gentil da minha parte, traduzido quase sempre em um tapinha nas costas – coisa que me despertava um pouco de raiva, mas que já se tornara inconsciente – e em um “tudo bem, Sr. Jones”, pra completar. Era meio deprimente pensar em alguém que tinha como único meio de sustento um ônibus destruído para dirigir!
Ao entrar no lixão – carinhosamente apelidado por mim e aderido pelos demais – tive a impressão de ser o único filho da mãe que teve a coragem de encarar o colégio com aquele dia de merda. Porém, ao me aproximar das últimas poltronas vi que não estava sozinho. Um garoto que aparentava uns dezesseis ou dezessete anos, cabelo à escovinha – penteado ofensivo nos dias de hoje! – e magricelo como um bambu, estava sentado no último banco do lado oposto ao do motorista.
- Como vai? – é o tipo de pergunta idiota que insistimos em fazer – perguntei displicente. Sem me olhar nos olhos, como se me fizesse um favor, o safado respondeu com a maior falta de vontade.
- Não muito bem – respondeu ainda mais displicente.
Percebi logo de cara que este cretino era pior do que eu pensava, o que me fez cessar palavra imediatamente. Nunca havia visto o sacana na vida e ele me vinha com uma respostinha de merda daquelas.
Sentei a uns três bancos à frente do rapaz mal-humorado, abri meu livro – um romancinho barato do Dennis Lehane que virou filme e ganhou até Oscar e tudo – na página onde havia parado anteriormente, respirei fundo, mas não o suficiente para conseguir prender minha atenção àquele livro. Minha vontade era de levantar e quebrar a cara daquele cretino! Sei que não poderia – sempre fui pacifista!
De repente, uma voz ecoou no ar quebrando o gelo que havia se formado dentro do lixão. – O que você está lendo, amigo?
Não dava para acreditar. Primeiro o cretino – que só podia ser parente do motorista, pois estava de carona – mal me cumprimentara, depois fingiu que eu não existia e, por fim, me tomou por amigo, querendo saber sobre o que eu estava lendo! Era um safado mesmo ou coisa que o valha.
Pensei em ser sarcástico ou nem mesmo responder, mas sei que não conseguiria dar o gelo no cretino! Sou muito bonzinho mesmo, no duro!
- É Orwell – respondi num tom arrogante de dar raiva, juro mesmo. Sabia que um metido excêntrico daquele jamais conheceria o bom George Orwell. Quis esnobar pra valer falando coisas inúteis sobre o grande autor de 1984, mas já estava de saco cheio com o sacana e não quis perder o meu tempo. – Gosto muito de George Orwell, principalmente “A revolução dos bichos” – respondeu-me prontamente.
Fiquei abismado! Não pelo fato do sujeitinho conhecer o tal escritor, – que é muito conhecido mesmo e tudo mais – mas sim, por continuar uma conversa que estava na cara que não tinha futuro.
Fiquei em silêncio com uma puta cara de merda imaginando que o cretino sarrista tinha saído por cima. Odeio discutir com ignorantes! No começo eu até que vou bem, mas acabo perdendo a calma, pois, por mais que eu me esforce, perco sempre pela falta de experiência! Era como um sujeitinho chamado Ridley que eu havia conhecido em Berniston. O cara era ignorante de dar pena. Todos os dias no refeitório o pessoal ficava pregando peças no coitado e pior, ele sempre caía na mesma chacota, era incrível! (continua...)

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