Espaço aberto: Luciano Santos

Danos cerebrais

Viva a clareza de pensamento.

Uma verdadeira viagem. Este último fim de semana retornando de São Paulo, em uma noite fria e chuvosa de sábado, pilotando minha moto depois de um dia muito bom ao lado da minha namorada e do meu irmão, estava cansado e angustiado devido à série de fatos que aconteceram nas últimas semanas. Percebi que aquele momento era o primeiro em vários dias que eu estava sozinho, sem pressa de chegar e sem nenhum compromisso.
Eu poderia curtir a viajem tranquilo, pois como de costume sempre volto no domingo já pensando na segunda-feira. Nesse dia em especial fiz algo que não quero nem falar por tão vergonhoso e infantil. Minha atitude equivocada deixou-me mais chateado, não sei dizer se pela somatória de todas as cagadas, mas talvez pelo cansaço, pela angústia e a solidão daquele momento. É certo que estava realmente chateado.

Deprimido, coloquei em meu MP3 uma coletânea do Pink Floyd para me acompanhar nas duas horas de viagem que estavam por vir. Aquilo foi como um alucinógeno! Conforme as músicas tocavam eu sentia uma profunda vontade de liberar todos os sentimentos que estavam dentro de mim. Alternando entre choro e canto, as letras das músicas surgiam em minha mente como se eu as conhecesse profundamente, o que não era o caso. Músicas que eu nunca tinha dado importância, como Brain Damage, me faziam viajar e entorpecer. As horas de viagem passaram em uma velocidade incrível, como se fora apenas alguns minutos de pista solitária. Antes mesmo das lágrimas cessarem eu já estava em casa, molhado de chuva e com os olhos inchados, rouco de tanto entoar clássicos lisérgicos. Ao tirar toda a roupa molhada e tomar um banho quente, deitei-me à cama e dormi como há tempos não dormia, tornando distantes as noites em claro dos dias anteriores. Aquela noite de sábado foi de um sono pesado e profundo, daquelas que só quem está com a alma lavada e a mente tranquila pode ter.

Ao acordar, ainda meio perdido por não saber o que me levou a sentir tudo aquilo, constatei em frente ao espelho que as olheiras que me acompanhavam por meses já não estavam mais lá. Minha cabeça se abriu para enxergar o que estava me fazendo tanto mal e quais providências deveria tomar. Tudo se tornou claro e, enfim, eu estava pronto para ser tudo aquilo que eu sempre sonhava. Tudo sempre gira em torno da simplicidade e a cada dia que se passa vejo que quem complica a vida somos nós mesmos e que apenas adotando prioridades tudo pode ser resolvido. Resumindo, não posso mudar o passado, mas posso melhorar o meu futuro. Essa convicção não sai da minha cabeça desde então, assim como a frase “I'll see you on the dark side of the moon”. Viva a clareza de pensamento. Viva o Pink Floyd!