Ultimamente, estive pensando sobre a
efemeridade das coisas e de tudo aquilo que desaparece na mesma velocidade que
a nós se apresenta. As paixões, os vícios, as amizades superficiais, o cabelo
comprido que hoje está curto e amanhã voltará a crescer, as promessas não
levadas a cabo, os conflitos, as frustrações, as realizações e outra miscelânea
de ferramentas inúteis de interação que jamais sonháramos ter quando crianças,
mas que, estranhamente, hoje se tornaram imprescindíveis para boa parte dos
robôs teleguiados que habita a terra. Entre estas inovações “essenciais” está o
Facebook.
Ah, o Facebook! O que seríamos sem ele! Este
fantástico dispositivo que nos aproxima daqueles que estão longe e nos afasta
de quem está ao nosso lado! Por perceber cada vez mais a incapacidade de
estabelecer um diálogo normal com um semelhante – à moda antiga, usando a fala,
alguém ainda se lembra? –, resolvi,
após seis anos de relacionamento fiel e inabalável, romper relações com meu
amiguinho azul. Comuniquei a alguns amigos sobre minha insanidade e, logo de
cara, retribuíram-me com olhares incrédulos e inquisidores. Ainda que me
corroesse o medo de perder milhares de amigos desconhecidos ou de não mais
saber o que cada um comeu em sua última refeição, descobri algo revelador:
existe vida após o Facebook!
Quando moleque, lá nos confins do norte
paranaense, no início da década de 90, eu ia até a casa de alguém quando queria
vê-lo, chamava-o em frente ao portão e, já na rua, as possibilidades eram
infinitas. Tínhamos todo o tempo do mundo. O nome disso era vida real! Ainda
lembro-me de seus aromas, texturas e sabores. Não quero ser saudosista e nem
nostálgico, tampouco quero negar a evolução das coisas do mundo, as quais nos
ajudaram a crescer como nunca antes. Contudo, nesta realidade em que todos os
segundos são preenchidos com informações e novidades, esvaziam-se as pessoas e
as relações humanas, a ponto de tornar-se rara a comunicação não intermediada
por um celular ou outro qualquer novo dispositivo da moda – o qual se torna velho,
quase que subitamente, no instante em que é lançado!
Da minha já ultrapassada, mórbida e
nociva vida social (digital!) guardo apenas as fotos, pois estas me remetem às
coisas que realmente importam, aos bons e inesquecíveis momentos que presenciei
e aos amigos que curtem e compartilham comigo a vida real. Percebo, antes tarde
do que nunca, que, se a vida é tão passageira quanto um piscar de olhos, por
que permanecer em frente a uma usina de utopias, escura e fria, onde desfilam máscaras
e cenários que jamais serão verdadeiros?
Àqueles que ficam, desejo-lhes que a
dureza da efemeridade não os assombre de repente e que neste palco de ilusões
sejam felizes, ainda que absortos em um mundo de faz-de-conta e sentimentos
limitados. Já aos meus poucos amigos, não marcarei ninguém para saber como estou
ou para onde vou, mas garanto estar no mesmo lugar, do jeito que vocês me
conheceram antigamente, olho no olho, sempre disponível para novas experiências
que guardaremos não numa plataforma onde milhões de desconhecidos vagueiam feito zumbis, mas em nossa memória, de onde nunca deveriam sair as boas lembranças.