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quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Por que causas o brasileiro tem se mobilizado atualmente?

O general Castelo Branco apoderou-se do governo brasileiro em março de 1964, dando início à ditadura civil militar. No entanto, as tendências autoritárias e distantes de preocupações sociais, assim como estiveram em latência no passado político brasileiro, perdurariam em meio às consequências sociais da década de 1960. Neste contexto, as ações do coletivo solidificaram-se como as únicas formas de cidadania e reivindicação social diante da arbitrariedade e despotismo de líderes militares. Dessa forma, ainda que o brasileiro carregue uma herança reivindicatória sólida e responsável por avanços políticos e sociais, as mobilizações modernas são desencorajadas, subtraídas de discernimento e criticidade e impulsionadas apenas por tendências sociais.
O pai do liberalismo John Locke (1632-1704)

Aos olhos do filósofo contratualista John Locke, é necessária a submissão da massa coletiva diante de um poder racional e bom devido ao estado de natureza egoísta e parcial vivido pelo homem. Entretanto, a insurreição deve acontecer caso a liberdade, a segurança e a vida do indivíduo social não sejam preservadas por esse poder soberano. Assim como proposto por Locke, as mobilizações públicas dos brasileiros, ao longo da história, colocaram-nos para além de receptores passivos de ações privadas e, dessa forma, simbolizam contestações do regime, questionamentos salariais e civis, além de frentes de resistência contra as juntas militares e a censura.

Todavia, o cenário reivindicatório brasileiro tem sofrido mudanças e desencorajamentos, já que as mobilizações coletivas perdem sua frequência e especificidade. Tal afirmação pode ser verificada ao se estabelecer um paralelo de semelhanças entre o movimento dos “Caras Pintadas” e as paralisações de 2013, uma vez que, embora ambas tenham sido movimentos de clamor nacional, as contestações eram amplas e fluídas em criticidade nos motivos de protesto. Com maior visibilidade, as mobilizações coletivas sofrem impulsos de tendências sociais, levam grandes números às ruas, mas liquefazem-se pela falta de ideologias concretas, projetos de mudanças e organização.

Os sujeitos político-sociais brasileiros têm, portanto, suas memórias reivindicatórias difusas e agem em mobilizações modernas como se as não tivessem. A fim de que o passado de revoltas, protestos e greves do brasileiro não se restrinja aos livros de história, é necessário que a sociedade repense as ideologias e as propostas de cada mobilização, buscando criticidade e consistência em sua militância. Ademais, a mídia deve contribuir para reavivar a solidez de ações coletivas engajadas e, em conjunto com as instituições escolares, fortalecer e investir em movimentos como fóruns, debates e seminários, priorizando sujeitos políticos e não personagens de uma estória sem substância e coerência.

Texto produzido pela pré-vestibulanda Paola Mantovani.


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Funk: expressão cultural ou produto midiático?


Desde o século XVI, a cultura africana no Brasil não era aceita pelos brancos que exerciam sua hegemonia no país. Expressões artísticas, como a capoeira e ritos religiosos, eram duramente combatidas e associadas, posteriormente, à Lei Aurea, bem como a grupos marginalizados, pobres e criminosos. 

Atualmente, as condições permanecem as mesmas, sendo o funk o ícone moderno da expressão criado pela população periférica. Entretanto, os temas abordados neste estilo musical são variados, sendo que alguns contribuem com a denúncia da precariedade social a que estão sujeitos, enquanto outros apenas lançam às mídias conteúdos escandalizadores, visando ao sucesso, ainda que temporário.
De acordo com projeto de Lei 4.124-A de 2008, o funk é definido como "forma de manifestação cultural de caráter popular". No início de sua criação, aproximadamente nos anos 1970, a musicalidade era baseada no ritmo produzido pelo som oral, sem instrumentos musicais e cantado nas ruas. Em sua maioria, abria um "leque" de informações e denúncias que deixavam públicas e firmadas as insatisfações vividas pelo povo, o que categorizava uma forma de expressão cultural.

Todavia, este cenário tem sofrido uma inversão de valores, já que as composições são, agora, de caráter apelativo e quase sempre direcionadas a questões eróticas. Com maior visibilidade e sucesso, os "MCs" ditam os novos padrões femininos e reafirmam o machismo na sociedade brasileira nos temas musicais, além de lançarem modas e costumes populares que são aderidos não só pela população de classe inferior, mas também média e alta.

Levando em consideração os argumentos supracitados, não se deve deixar para trás as questões levantadas pelo "funk primitivo", uma vez que o cenário brasileiro retratado nesta expressão cultural permanece o mesmo ou ainda pior. É responsabilidade do Estado, portanto, não submeter a população periférica ao total abandono, garantindo-lhe os direitos que estão na Constituição. A mídia, por sua vez, deve financiar também o funk engajado, e não só o funk "proibidão", não deixando que a verdadeira forma cultural perca força e que o país não seja marcado apenas pela sexualidade e diversões.

Texto produzido pela pré-vestibulanda Lorena Mizue Kihara.