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sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Ciranda Viciada

A fotografia histórica capturada no interior das fábricas inglesas, no século XVIII, contava com mulheres e crianças subjugadas a precárias condições de trabalho. Neste contexto, a linha de produção era formada, em grande parte, por pequenas mãos que tão pouco alcançavam a esteira fordista e deixavam minimizadas as atividades da infância. Ao olhar para o Brasil sob o mesmo prisma, resguardando seu contexto histórico e temporal, os direitos das crianças e adolescentes, ainda que existentes, são seletivos em sua abrangência e aplicabilidade, nutrindo uma infância desconfigurada e ausente de movimentos criativos e sonhadores.

O cenário do trabalho infantil europeu do século XVIII transmutou-se ao longo da história, não perdendo sua essência, e personificou-se nos canaviais brasileiros no contexto do ciclo da cana-de-açúcar. Também existente, a exploração infantil pode ser observada nas negligências sociais que vitimam crianças menos abastadas, nas estruturas ideológicas pautadas em coerção e em menores herdeiros de desestruturação familiar e esquecidos pelo coletivo. Tal afirmação é corroborada a partir do livro reportagem “A Guerra dos Meninos”, de Gilberto Dimenstein, o qual retrata assassinatos de menores no Brasil por instituições oficiais de poder.

Além disso, sob um olhar sociológico, a infância pode ser compreendida como um conjunto de movimentos de absorção do mundo e externações de potencialidades livres e criativas, através de estímulos e experiências empíricas. A partir disso, a construção da identidade do sujeito social e político resulta do diálogo entre o mundo e o menor. A criança é, portanto, social e histórica. A seletividade dos direitos a adolescentes e crianças periféricas ameniza cosmovisões cheias de sonhos e cerceia a infância e a adolescência diante de análises etárias, ademais, desencoraja novas perspectivas de mudança e potencializa movimentos do coletivo coercivos, autoritários e dogmáticos diante da tenra idade.

Diante das ideias supracitadas, a fim de que os aportes sociais às crianças e adolescentes não se tornem as elevações utilizadas por elas para se nivelarem às máquinas, e os seus direitos configurem-se de forma sólida e homogênea, é responsabilidade do Estado, logo, não subjugar a infância periférica ao total abandono, garantindo-lhe os direitos assegurados no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). 

Faz-se necessário, também, ações educativas através das escolas e instituições que executam medidas socioeducativas para aqueles que, em situações de grande vulnerabilidade, não desaprendam a sonhar logo na infância, mas se deixem encantar como Zezé, protagonista do livro “Meu pé de Laranja Lima”, com esperança e sonhos na juventude.


Texto produzido pela pré-vestibulanda Paola Mantovani.