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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Espaço Aberto: Luciano Santos

Um Caroço em minha vida
Hoje, mesmo não tendo a enorme força de antes, ele continua sendo um dos meus heróis favoritos.


Vô Caroço, um dos precursores do
Brilhantismo no Brasil.
Hoje, estava trabalhando concentrado quando recebi uma ligação de minha mãe. Preocupada, ela dizia que meu avô, internado há alguns dias, havia piorado repentinamente e deveria ser operado às pressas. A situação era bem pior do que eu imaginava e meu avô teve a perna amputada. Até aí era uma possibilidade iminente, pois meu avô sofre de diabetes e devido a essa traiçoeira doença já teve alguns dedos amputados. Ao ouvir aquela notícia através da voz triste de minha mãe fiquei chocado e um pouco abalado. Sai da sala, entrei no carro e fugi para pensar em como seria a vida daqui pra frente.
Ao entrar no carro me senti no Delorean do filme De Volta Para o Futuro e programei uma data qualquer dos anos 90 quando eu era apenas uma criança. Ao chegar nessa época pude ver a beleza daqueles tempos. Minha bisavó Amélia ainda estava viva e eu passava tardes inteiras na casa dela, apenas conversando e assistindo TV. Na casa do fundo morava meu tio Celso, um cara especial com quem eu adorava estar. Quando criança nunca entendi suas atitudes e a aversão que as pessoas muniam por ele, porém, mais velho, a verdade veio ao meu encontro. Tio Celso era viciado em drogas e isso o tirou de nós muito cedo.


Perto dali, vi também meu avô Tunicão em sua máquina de sorvete em frente ao Maria Júlia Bueno, local onde esta até hoje. Vô Tunicão é um homem grande que coloca respeito somente no jeito de olhar. De lá, fui à casa da Vó Madalena que faz o melhor café da tarde do mundo e acabei encontrando também a Vó Genoeva que sempre estava trabalhando em sua máquina de costura. Por fim, com meu Delorean pós-moderno, fui até uma obra para encontrar meu velho vô Caroço, que como sempre estava sob aquele sol escaldante com seu surrado chapéu de palha. Estranhamente, sorria sempre, apesar de eu não entender como era possível estar feliz trabalhando daquele jeito. Eu o esperei até ele ir embora e juntos fomos, ele com sua inseparável Barra Forte azul,  eu com minha rodada Caloi Cross. Chegamos a sua casa e logo ele pegou seu velho violão para tentar me ensinar a tocar suas lindas modas, que só hoje tenho maturidade suficiente para entender. De tanto ele tentar eu acabei aprendendo um pouco, o suficiente para não querer mais tocar as modas, e sim, o meu rock and roll de que eu tanto gosto.


Largamos o violão de lado e ele se sentou à mesa com seu inseparável prato fundo branco que ninguém podia usar. Jantou e, em seguida, como de costume, se retirou da mesa direto para a cama. Nessa hora voltei ao presente e estava parado em frente à Santa Casa onde meu avô estava. Respirei, olhei a rua por um instante e desci para dar um abraço no meu velho guerreiro de tantas batalhas. Hoje, mesmo não tendo a enorme força de antes, ele continua sendo um dos meus heróis favoritos. Ao deixar o hospital refleti sobre algo que não costumo pensar. Se realmente existe um Deus ou uma força suprema que controla e determina nossos destinos, que ele não desconte tudo em meu velho avô. Deixe um pouco para mim que devo muito mais que meu velho e querido Vô Caroço.



2 comentários:

  1. Texto lindo e emocionante

    Esse cara da foto que escreveu ???

    Alem de lindo é sensivel...

    Mil Beijos

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  2. Esse cara e lindo mesmo hem!!!!
    Lindo o texto tambem!

    BEIJOS!

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