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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

“Roda da Feira” completa 24 anos de histórias e cultura popular


Há mais de duas décadas encantando o público, a “Roda da Feira”
é patrimônio cultural de Mogi Guaçu (Foto: Tarso Zagato)
Encontro comemorativo aconteceu neste domingo (2), na tradicional “Feira de Domingo” de Mogi Guaçu.

A “Roda da Feira”, encontro de capoeiristas que acontece no último domingo de cada mês, na tradicional “Feira Popular de Domingo”, em Mogi Guaçu (SP), completa 24 anos neste mês. Para comemorar a data especial, praticantes da luta – genuinamente brasileira – se reuniram mais uma vez para a apresentação de jogos nos tipos angola e regional, e também para a execução de saltos acrobáticos e muita música.

O encontro, segundo o estudante de História e professor graduado de capoeira, Guilherme Arengui, alude não só ao Dia do Capoeirista, comemorado em 2 de agosto, como também à assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, e à semana de libertação definitiva dos escravos, marcos importantes para os capoeiristas e para a história do Brasil. 

“Infelizmente, a grande massa não se atenta para o lado histórico-cultural de uma apresentação de capoeira, pois isso também está presente em alunos que, de certa forma, não se importam com a tradição dessa arte. Para muitos, a Roda da Feira trata-se apenas de uma apresentação, mas ela também evidencia a cultura viva e a manifestação de um povo que usava a capoeira para sua sobrevivência”, argumenta.

Arengui explica ainda que a “Roda da Feira” já se tornou patrimônio cultural imaterial de Mogi Guaçu e, portanto, deve ser prestigiada e preservada pelos praticantes locais e pela população em geral. “É de suma importância mantê-la viva, pois através dela podemos representar todo tipo de sofrimento e sangue derramado pelos nossos ancestrais escravos, que a usavam em prol da liberdade própria e na busca pelos direitos de igualdade”, enfatiza o professor.

Ocorrido ontem, o evento reuniu alunos, instrutores, professores e mestres de toda a região. As atividades tiveram início às 10h, e foram conduzidas pelo folclórico mestre Joanito Baiano, um dos mais conhecidos e respeitados do país, e pelo guaçuano Rafael Lisboa Pinafo, o popular “Mestre Cabeça”.

Patrimônio Cultural Imaterial

A capoeira é uma expressão cultural brasileira que mistura arte marcial, esporte, cultura popular e música. Desenvolvida no Brasil, sobretudo por descendentes de escravos africanos, é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando, principalmente, chutes e rasteiras, além de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias em solo ou aéreas.

A modalidade é reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio cultural imaterial do Brasil e ostenta uma história que se confunde com a do próprio país.

A partir da esquerda: mestres Cabeça e Joanito Baiano, e o professor
graduado Guilherme Arengui: “Roda da Feira deve ser mantida viva”
(Foto: Divulgação) 
Criada por uma necessidade de defesa, foi a arma mais importante na luta contra a escravidão. Após a abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888, a capoeira foi colocada no Código Penal Brasileiro, em outubro de 1890, sob a Lei 847, de Sampaio Ferraz. O texto do Capítulo XIII, à época intitulado “Dos vadios e capoeiras”, proibia a prática da “Capoeiragem”, termo pejorativo utilizado para denominá-la.

“[É proibido] fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal”, implicava o extinto texto, que previa ainda pena de dois a seis meses de trabalhos forçados na Ilha de Fernando de Noronha.

Somente 50 anos depois, após a reformulação da capoeira pelo Mestre Bimba, a então malquista prática cultural foi retirada do Código Penal Brasileiro e reconhecida como esporte nacional.


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