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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Garrafa de Náufrago, com Léo Davine

Bucha de Canhão

O mais democrático de todos os bens culturais é a língua. É o povo que a inventa e modifica de acordo com a própria vontade.

Como é o povo quem mais sofre em todas as nações, as expressões que denotam problemas – de todos os tipos – são muito abundantes em todas as línguas. No português do Brasil, por exemplo, é possível escrever um parágrafo, ou mesmo uma página, apenas com essas expressões. Para exemplificar, vai uma historinha boba:

“João tinha um amigo que o deixou na mão, e isso o meteu numa tremenda sinuca de bico. Quando percebeu, estava não em uma saia-justa, mas numa verdadeira calça do Christian & Ralf. Naquela hora, João viu a viola em cacos e concluiu, muito triste, que, sem a ajuda do amigo, a vaca tinha mesmo ido pro brejo. Apesar de respirar fundo, tentando afastar o pensamento daquela zica, teve de encarar a realidade: tinha servido de bucha de canhão mesmo”.

É certo que muitas expressões aqui empregadas fazem parte da gíria (que alguns julgam ser de uso exclusivo de determinados grupos sociais), mas não vai demorar para que elas mudem de status. A língua, tão dinâmica quanto o The Flash, não pertence à lentidão de dicionários e gramáticas, mas à rapidez da lógica popular.

LEONARDO DAVINE DANTAS é mineiro de Lavras, tem 39 anos, e vive em Campinas. Bacharel em Letras pela Unicamp, atua como servidor público do Estado de São Paulo. Seus autores prediletos são o poeta Virgílio e o Padre Manuel Bernardes.

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