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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Espetáculo para quem?

Em bate-papo com o L&C, o secretário municipal Luiz Carlos Ferreira defende cultura de qualidade em Mogi Guaçu, mas admite falta de público no Centro Cultural.

O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes de cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais, [garantindo ainda a] democratização do acesso aos bens de cultura. A prerrogativa, recorte literal do Artigo 215 da Constituição brasileira, deveria prenunciar cidadãos culturalmente preenchidos e enlevados por eventos de grande magia e substância. Deveria. A realidade, obviamente, desmente o que o texto promete, sobretudo quando a análise do enunciado é norteada pela generalização.

Vencer a burocracia e criar um público que frequente o Centro Cultural
são os objetivos principais do secretário de Cultura, Luiz Carlos Ferreira
(Fotos: Tarso Zagato)
No Brasil, a cultura sobra na mesma proporção em que vagam cadeiras para um público que não a consome. É o que se vê em muitos municípios, inclusive em Mogi Guaçu, aponta o secretário municipal de Cultura, Luiz Carlos Ferreira. Segundo ele, a cidade oferece cultura de qualidade para uma clientela notadamente pequena, ainda em formação. Da burocracia ao ar-condicionado, os desafios são muitos, mas competem com a aparente boa vontade da pasta em gerir a cultura de forma competente e qualitativa. Segundo Ferreira, são passos curtos, mas que não cessam nunca.            

L&C: Como o Senhor enxerga a cultura em Mogi Guaçu? O guaçuano tem cultura de qualidade?
Luiz Carlos Ferreira: Diante das dificuldades que nós estamos enfrentando, o guaçuano tem cultura de qualidade, mas não tem acesso a ela. São poucos aqueles que acompanham a divulgação dos eventos através da imprensa falada e escrita, principalmente a internet, e conseguem ter acesso a essa cultura de qualidade. A maioria não sabe que existe porque ela não tem como obter essa informação a respeito do que está acontecendo na área da cultura, o que é uma falha da estrutura municipal e da cidade como um todo. Nós temos poucos meios de comunicação que conseguem chegar ao público e informar que determinados eventos culturais irão acontecer. Recentemente, nós tivemos a peça “O Pequeno Príncipe”, um senhor de um espetáculo, e não havia mais do que 20 pessoas na plateia, infelizmente.

L&C: O que a Secretaria de Cultura está fazendo para chegar neste público que não tem acesso à informação da qual o Senhor fala?
Luiz Carlos Ferreira: A primeira coisa que nós estamos fazendo em relação a este problema é criar um público que comece a frequentar o Centro Cultural.

L&C: De que forma?
Luiz Carlos Ferreira: Estamos usando as peças gratuitas que são apresentadas semanalmente aqui [Teatro Tupec], que vêm a Mogi Guaçu através de parcerias com o Governo do Estado e o Proac (Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura), especificamente para crianças e adolescentes, para ensiná-los a usufruir e apreciar estes espetáculos. Uma parte significativa dessas crianças não sabem nem como se comportar dentro de um teatro, então temos que ensinar desde o momento em que elas entram no teatro até a hora certa de aplaudir. A preocupação maior é criar e educar essa plateia para que, futuramente, já adulta, ela possa ser uma frequentadora assídua dos espetáculos no Centro Cultural e em outros locais que ofereçam eventos culturais. Paralelamente a essa formação, nós tentamos divulgar a programação nas redes sociais, onde sempre disponibilizamos a agenda cultural atualizada.

L&C: Devido a essas ações de educação – ou reeducação – cultural, o Senhor tem percebido um aumento de público no Tupec?
Luiz Carlos Ferreira: Sim, temos percebido que aumentou. Por exemplo, mantemos uma parceria com a Mahle que é o “Dança e Cidadania”, que já existe há 15 anos. São professores de Campinas que vêm aqui duas vezes por semana dar aulas de ballet clássico. Antes, esse curso funcionava na escola Marcia Risola Falsetti e atendia só as crianças do Jardim Chaparral. Como começou a ter muita procura, o curso foi centralizado no Centro Cultural para que todas as pessoas da cidade tivessem acesso e foi através dele que nós percebemos o aumento de frequentadores no Tupec. O curso também promove apresentações no teatro e acaba gerando o interesse dos alunos e também dos pais, que passam a ver não só as apresentações de ballet clássico, mas também outros espetáculos que ocorrem aqui.  

L&C: Há pouco o Senhor citou o Proac, que é um programa estadual de incentivo à cultura. Por que a Secretaria não tem uma equipe específica e especializada para trabalhar na captação de recursos oferecidos neste e em outros programas capazes de viabilizar mais e melhores espetáculos para Mogi Guaçu? Qual é a resistência da Secretaria ou da Prefeitura em ter um pessoal especializado nesta área?
Luiz Carlos Ferreira: Na realidade, não é só a Secretaria de Cultura que não tem essas pessoas especializadas, mas sim, todas as empresas de Mogi Guaçu e região. Você vai até uma empresa pedir patrocínio para algum evento no Centro Cultural e ela até participa, mas, antes, quer saber das leis para abatimento do imposto de renda, e nós não temos pessoas capacitadas para orientá-las em como fazer isso. Se você quiser alguém que entenda disso, precisa pegar pessoas de fora e é o que muitas empresas estão fazendo.

O Tupec é um dos maiores e melhores teatros da região, mas sofre
com as “piadas artísticas” pela ausência de ar-condicionado.
L&C: E não convém à Secretaria de Cultura, por meio da Prefeitura, contratar uma assessoria externa capaz de fazer esse serviço?
Luiz Carlos Ferreira: Infelizmente, nós assumimos em 2013 em uma situação muito delicada. A parte burocrática que forma a Secretaria de Cultura não foi concluída e toda a estrutura que deveria ser registrada para formalizar a Secretaria em Mogi Guaçu também não foi feita. Era algo que precisaria ser feito e nós fizemos, praticamente finalizamos essa burocracia toda. Organizamos toda a papelada e fizemos um plano decenal, ou seja, um plano de ação para a Secretaria de Cultura que irá permanecer por 10 anos, sem que ninguém possa alterar nada.

L&C: Mas esse plano passará a valer a partir de quando?
Luiz Carlos Ferreira: Todas as ideias já estão no papel e, agora, para agilizar, nós vamos sentar com o prefeito e todos os vereadores para explicar essa nova estrutura proposta para a Secretaria de Cultura. Depois disso, o projeto deverá ser encaminhado pelo prefeito à Câmara para votação. Aprovado o projeto, ele já estará valendo e, assim, nós encaminharemos toda essa parte burocrática à Secretaria do Estado e ao Ministério Público. Com a Secretaria devidamente cadastrada, passaremos a ter um CNPJ.

L&C: O que permitirá que vocês mesmos incentivem projetos culturais por meio de dedução fiscal.
Luiz Carlos Ferreira: Exatamente. Na hora que nós estruturarmos essa parte burocrática e estivermos registrados no Ministério da Cultura, teremos um CNPJ. Só por meio dele nós podemos conseguir recursos de leis de incentivo à cultura e verbas para, por exemplo, reformar o Centro Cultural ou Museu no Parque dos Ingás, na antiga delegacia. Acredito que esse processo vai levar mais um ano, mas isso depende da agilidade do prefeito e da Câmara.

L&C: Saindo da estrutura burocrática da Secretaria e partindo para estrutura física do Centro Cultural, o teatro tem uma ferida difícil de cicatrizar...   
Luiz Carlos Ferreira: O ar-condicionado (risos). Na realidade, não é só o teatro de Mogi Guaçu que não tem ar-condicionado, mas também vários outros da região. O problema é que aqui, quando o artista chega, ele tem a impressão que o teatro está completo, principalmente por seu tamanho e capacidade. Para colocarmos o ar-condicionado que foi planejado para o Centro Cultural, teríamos que suspender as apresentações no teatro por uns oito meses, porque é uma tubulação enorme que vai por cima do forro e passa pelos camarotes, pelo palco e camarins.

L&C: Então não é um projeto previsto para curto prazo?
Luiz Carlos Ferreira: Não. Acredito que vai levar muito tempo para isso acontecer. Quando nós tivermos um outro Centro Cultural para que nós possamos paralisar aqui, então, acredito que aconteça. Porém, nós estamos estudando a possibilidade, que é uma parceria do Tupec com empresas da cidade, de instalar um ar-condicionado provisório. Está faltando apenas a resposta de uma empresa para concluirmos o valor. O equipamento fica em torno de 180 mil reais, porque teremos que comprar, também, um gerador de energia, que é o mais caro.

L&C: E há uma previsão para que isto seja concretizado?
Luiz Carlos Ferreira: Se esta empresa nos responder logo, eu acredito que para o próximo verão já tenhamos o ar-condicionado instalado.

L&C: Como o Senhor sabe, esta é a edição de lançamento do Jornal Letra e Cultura, o primeiro do gênero em Mogi Guaçu. O que a cidade ganha em ter um jornal especializado única e exclusivamente em cultura?  
Luiz Carlos Ferreira: É de fundamental importância. Ter um jornal falando especificamente de cultura permite que um número significativo de pessoas tenha acesso à informação cultural de qualidade sem ter que pagar por conteúdos que não lhe interessa, como polícia, política ou coluna social. Esse leitor passará a ter um meio de comunicação que terá tudo o que ele quer. Por isso, eu acredito que esse jornal vem trazer algo novo e fundamental não só para Mogi Guaçu, mas, de alguma forma, para a nossa microrregião, que, fatalmente, acabará sendo alcançada por este veículo.  

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