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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Entrevista: Alair Junior, o jornalista multimídia

O jornalista Alair Junior (Divulgação)
“Existem bons jornalistas que atuam, praticamente, no anonimato e continuam sendo bons exemplos por décadas seguidas. Para mim, são os verdadeiros exemplos do poder, aqueles que se pautam pela verdade, não aceitam humilhação, mas não perdem a humildade e, sobretudo, nunca abandonam sua dignidade.”
Quando pequenos, temos a certeza de que podemos ser qualquer coisa. Policial, bombeiro, médico, astronauta, jogador de futebol ou herói de histórias em quadrinhos. Ou todos juntos. Os sonhos são do tamanho de nossa imaginação e pouco importa o quão improvável seja nossos anseios. Com a personagem desta entrevista não foi diferente, sobretudo por descobrir, ainda menino, que a sua maior vocação seria a de comunicar. 

Filho de um dos ícones do radiojornalismo regional, o jovem Alair Junior pode afirmar que o jornalismo corre em suas veias. Desde muito cedo, acompanhou os passos do pai pelos sonoros caminhos da radiodifusão e, por lá, cresceu e se desenvolveu como homem e profissional, alcançando reconhecimento e notoriedade na imprensa da Baixa Mogiana.
Jornalista multimídia, também parece ter o superpoder de controlar as horas, uma vez que encontra tempo para atuar na TV, rádio, web e em jornais impressos de Mogi Guaçu e Mogi Mirim. Incansável, Alair Junior só deixa o trabalho de lado quando o assunto é o pequeno Davi, primogênito que, assim como ele, também terá seus sonhos de criança, mas, certamente, crescerá com o jornalismo em seu DNA.  

Letra e Cultura: Olá, Junior! Como vai? Imagino que seja novo para você estar do lado oposto desta vez, não como entrevistador, mas, sim, como entrevistado (risos).
Alair Junior: Olá, tudo bem. É mesmo diferente. Afinal, todo dia entrevisto alguém sobre os mais variados assuntos e, não é muito comum, mudar de posição.  Como tudo na vida é uma grande experiência e com ela o aprendizado, aproveito essa posição para ter a oportunidade de aprender um pouco mais.

Letra e Cultura: Gostaria de iniciar esta entrevista pedindo para que você faça um breve resumo da sua carreira, até aqui. Como nasceu, cresceu e se desenvolveu o jornalista mais conhecido da nossa região?  
Alair Junior: Nasci em Mogi Mirim em 1977. Meu pai, Alair Bellini, é radialista aposentado. Na época, ele trabalhava em Campinas e eu, desde os 10 anos, já frequentava os estúdios da rede Bandeirantes de rádios AM, OM e FM. Em 1989, meus pais se mudaram para Mogi Guaçu, terra natal da minha mãe Cecília Ferraz. Aos 12 anos, por intermédio de meu pai, comecei a trabalhar como sonoplasta na Rádio Vale Verde. Cobria folgas de locutores. Aos 16 anos me tornei locutor autodidata. Em 1996 apresentei o programa de radiojornalismo “Plantão de Polícia”, que se resumia na leitura de boletins de ocorrências policiais. Me formei em Jornalismo em 2004, em São João da Boa Vista, mesmo ano em que comecei a trabalhar como repórter no site Portal Mogi Guaçu. Em 2010 ingressei na Sociedade Educadora de Comunicações - SEC TV canal 44, onde atuo como apresentador do programa de telejornalismo “Canal Aberto”. [Além disso], desde 2012 atuo como repórter freelancer dos jornais Tribuna do Guaçu e O Impacto, de Mogi Mirim.

Letra e Cultura
: Você atua na TV, rádio, web e jornais impressos, todos como repórter policial. Onde você encontra tempo e fôlego para manter essa rotina de jornalista multimídia. 
Alair Junior: O trabalho diário é dividido pela necessidade dos veículos. O assunto é o mesmo, a editoria policial, mas cada um tem seu formato. Então, começo meu dia fazendo as “rondas” nas delegacias de Mogi e do Guaçu. Escrevo primeiro os textos de impressos, que são mais complexos, em seguida, preparo as laudas dos programas de rádio e TV. É exigente, mas quando se integra uma equipe, a ajuda dos colegas minimiza a dificuldade e auxilia na apuração.

Letra e Cultura: Apesar de atuar em todos esses os veículos e ter uma formação profissional calcada no rádio, é na frente das câmeras que você mais se destaca. De onde vem esse talento para a TV? 
Alair Junior: Vem do rádio mesmo. A técnica de locução facilitou a apresentação diante das câmeras. Evidente que existe diferença entre ler e interpretar um texto dentro de um estúdio de rádio, do que ler o mesmo texto olhando para uma câmera de TV e, principalmente, ao vivo. Por isso, precisei aprender algumas técnicas de expressão corporal para complementar a facilidade da locução. Concentração é fundamental. 

Letra e Cultura: Atualmente, programas policiais têm lugar cativo em quase todas as emissoras abertas do país, sobretudo aqueles com altas doses de sensacionalismo escancarado. O que você pensa sobre isso? Há algum programa ou apresentador deste segmento que lhe serve de inspiração? 
Alair Junior: Notícia policial sempre estará na capa. O interesse por esse tipo de informação é o responsável por esse lugar cativo. Confunde-se notícia de polícia com desgraça, e o sensacionalismo é o problema. Ele dá espaço para a irresponsabilidade, a falta de apuração, a propagação do medo e a sensação de insegurança. Na realidade, a notícia policial feita com responsabilidade é justamente o contrário. Mostra o combate ao crime, a prisão de bandidos, a força de vontade e dedicação dos bons policiais de todas as corporações envolvidas e, sobretudo, demonstra que o crime não compensa. Para mim, o jornalista Luiz Carlos Alborghetti foi uma autoridade do segmento e ainda serve de inspiração. Ele utilizava tom agressivo e desafiador na narração da notícia, o que estimulava denúncias e aumentava a confiança da população na polícia e na justiça. Alborghetti conseguia sincronizar responsabilidade com uma forma ácida e informal de noticiar um caso de polícia. Era perfeito e faz falta na atualidade.

Letra e Cultura: Como bom paranaense, cresci assistindo aos enérgicos e surreais programas do Luiz Carlos Alborghetti, responsável por revelar Carlos Roberto Massa, o “Ratinho”, que também atuou como repórter no meio policial e, posteriormente, se notabilizou em programas fundamentalmente sensacionalistas. O vigor e o entusiasmo com os quais você descreveu o Alborguetti remeteu-me à minha infância e adolescência no norte do Paraná, entre o final da década de 80 e início dos anos 90. Ele é seu maior ídolo no jornalismo? Quais são suas principais referências profissionais? 
Alair Junior: Minha principal referência sempre foi meu pai [Alair Bellini]. O Luiz Carlos Alborguetti era um ídolo no jornalismo policial, mas também busquei referências em outros profissionais famosos, como Gil Gomes, em São Paulo, o Jacinto Figueira, “o homem do sapato branco”, no Rio de Janeiro, além de personalidades famosas na nossa região, como o Gilberto Doná, no Guaçu, SubTenente Ariovaldo, de Espírito Santo do Pinhal e o Atayde Martins, de Mogi Mirim. Todos repórteres policiais que também atuavam nas rádios. 

Letra e Cultura
: Falando um pouco sobre o seu pai, talvez o Alair Bellini seja, ainda hoje, um dos nomes mais conhecidos e emblemáticos na história do rádio guaçuano, sobretudo por usar o jornalismo em benefício da população. Na sua opinião, qual é a importância que o seu pai tem para o jornalismo da cidade? Você espera conquistar o renome que o Alair Bellini alcançou na região?
Alair Junior: Como radialista profissional, meu pai se tornou muito conhecido. Atualmente, encontra-se aposentado. Sua especialidade sempre foi a audiência e a solidariedade. Sua contribuição foi mais com o fator social do que com o jornalismo. Em seus programas de rádio sempre alcançou grandes públicos e, com essa massa, conseguia ajudar a comunidade carente. Cada vez que ele utilizava o microfone de uma emissora para pedir ajuda, conseguia, em poucos minutos, centenas de doações. Alimentos, roupas, móveis, material de construção e até dinheiro. Ajudou muitas famílias de Mogi Mirim, Campinas e Mogi Guaçu. Meu pai nunca acumulou fortuna e seu legado é que o dinheiro e fama não importam, mas, sim, a sinceridade e o amor. Espero manter esses valores vivos. 


Letra e Cultura
: Aproveitando este gancho, o jornalismo é uma das poucas profissões capazes de gerar grandes transformações sociais, tanto no aspecto positivo quanto negativo. Contudo, cada vez mais, os novos – e velhos – profissionais de imprensa têm se distanciado dos valores éticos da profissão e buscado no jornalismo formas de alcançar a fama e a autopromoção. Você concorda com essa afirmação? Como você enxerga, atualmente, a relação jornalista-poder? 
Alair Junior: Eu vejo que toda profissão tem seus exemplos bons e maus, não deixam der ser um exemplo. Autopromoção pelo jornalismo pode ser facilmente identificada como prepotência e arrogância. Nem todos os profissionais são assim. Existem bons jornalistas que atuam, praticamente, no anonimato e continuam sendo bons exemplos por décadas seguidas. Para mim, são os verdadeiros exemplos do poder, aqueles que se pautam pela verdade, não aceitam humilhação, mas não perdem a humildade e, sobretudo, nunca abandonam sua dignidade. Conheço vários que são assim.
Letra e Cultura: Em todos esses anos como comunicador você participou de centenas de coberturas jornalísticas. Há algum fato ou acontecimento que marcou a sua carreira? 
Alair Junior: Foram muitas coberturas mesmo, a maioria de casos policiais. Especificamente, existem aqueles que marcam e outros que não valem a pena recordar. Contudo, sempre consegui extrair aprendizado das situações. Dos fatos trágicos, percebi a fragilidade da vida e que tudo acontece por excessos (bebida, velocidade, confiança, individualismo, etc). Não se trata de fixação ou medo, mas, sim, de uma forma prudente de antecipar-se ao perigo, afinal, tudo acontece em fração de segundos ou por atitudes impensadas. Na minha função é comum testemunhar o arrependimento ou ouvir dos envolvidos “nunca esperava que isso fosse acontecer”, independente do perfil da pessoa. O fator positivo sempre deixa marcas boas. São os crimes evitados, as prisões em flagrante e os salvamentos impressionantes. Como em todas as profissões existem diferentes profissionais, na polícia também é assim e não pode avaliar com uma visão superficial. Toda a vez que testemunho a determinação, a força de vontade e a emoção de um policial que trabalha com dedicação e amor à sua profissão, sinto-me esperançoso em dias melhores. Sei que o crime nunca vai acabar, mas também percebo que existirão gerações de bons homens que atuam nas polícias de todas as comunidades.

Letra e Cultura: Que conselho você daria aos novos jornalistas que estão se formando e logo serão absorvidos pelos jornais, revistas e outros veículos de imprensa da nossa região e também dos grandes centros.
Alair Junior: Na prática, algumas coisas são inúteis. São elas: senso comum e excesso de confiança, fatores que nos levam aos erros. A vida é um eterno aprendizado, não importa quais foram suas notas, a capacidade que se tenha de memorizar passagens textuais ou a quantia em dinheiro que se ganha por mês. O que importa mesmo é gostar da função. Ter amor ao seu trabalho. Isso ajuda a enfrentar as dificuldades. Para mim, a virtude da humildade sempre serviu de escudo contra a humilhação.

Letra e Cultura: Gostaria de agradecê-lo pela gentileza de nos conceder esta entrevista e, para encerrar, peço a você que envie uma mensagem ao público que o admira e acompanha seu trabalho dia após dia. O espaço é seu!
Alair Junior: Agradeço ao blog Letra e Cultura pela honra da entrevista. Tenho orgulho em fazer parte dessa empresa séria e que prima pela qualidade de suas notícias. Também agradeço a todas as pessoas que sempre demonstraram admiração pelo meu trabalho. Coloco-me à disposição. Meu e-mail pessoal é alairjr@hotmail.com. A mensagem é universal: precisamos deixar o individualismo de lado e amar mais o próximo. Não necessariamente pela religião, mas, principalmente, com fé.

Um comentário:

  1. Estou lisonjeado com a citação de meu trabalho como exemplo. O Alair é , além de talentoso e trabalhador, um ser humano ímpar. Que Deus o proteja sempre e parabéns pela bela entrevista.

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