Com Leo Davine. |
Confesso que sempre gostei de filmes de
terror, mesmo que ficasse de olhos abertos a noite inteira depois de assistir a
eles. Minha mãe não deixava que eu os visse, mas, na casa de minha finada avó,
os tios e tias me davam passe livre. Depois, eu os aborrecia com meus medos e
minha insônia.
Os tempos eram outros. Era um Brasil
recém-saído da ditadura. As grades de programação dos canais de TV não sabiam
muito bem o que fazer com tanta liberdade, ainda que tardia. As madrugadas
traziam enxurradas de terror. Velhos filmes do Drácula, alienígenas
sanguinários e canibais insaciáveis se infiltravam nos cérebros adolescentes.
Quem tinha dinheiro e uma carteirinha falsificada podia frequentar os cinemas (havia
cinemas no centro das cidades!) e se gabar diante dos fedelhos que não gozavam
desta benesse. Ô tempo!
Então, depois de muito anúncio,
reprisaram, na TV, O Bebê de Rosemary.
Na escola, no dia seguinte, ninguém
falava de outra coisa. Uns não tinham sentido medo, outros mijaram nas calças,
outros levaram umas chineladas para espantar o sono matinal. De toda forma,
aquilo havia criado tantas raízes na cabeça dos moleques, que alguns deles, já
marmanjos, passaram a alugar o filme toda semana. Viciaram-se a tal ponto que
já não davam atenção à namorada ardente de paixão, ao cachorro morto de fome,
às mães que viajavam 600km para vê-los. O programa de sábado à noite era O Bebê de Rosemary com vinho e canapés.
A namorada que assistisse ao filme com o marmanjo...
Pois bem. Uma namorada de um marmanjo
desses não suportou a rotina. Mandou o sujeito andar. E que levasse, também, a
Rosemary, o bebê e até o disco do Chico que ele roubou. O marmanjo percebeu que
o namoro fez água, mas parece que, até hoje, não acordou do próprio filme de
terror.
Jamais compreenderei a troca da
companhia da namorada pela do Bebê de Rosemary. O marmanjo, sem perceber a
gravidade da barganha, assumiu o ônus de uma permuta com prejuízo. Azar o dele.
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