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domingo, 30 de agosto de 2015

O efeito Jim Morrison

O cemitério Père Lachaise pode ser visitado virtualmente pelo site
www.pere-lachaise.com (FOTOS: SAMANTHA LODI)
Morto há 44 anos, ícone maior do rock psicodélico continua atraindo fãs do mundo inteiro, hoje em seu túmulo, um dos pontos mais visitados de Paris.

É uma típica manhã parisiense de sábado. Metrô lotado, mas em apenas quatro estações desço em Père Lachaise. Alguns passos e estou no cemitério mais famoso do mundo. Arrisco e não pego o mapa, lembro-me bem como chegar à sexta divisão onde está o túmulo mais visitado das últimas décadas: o de Jim Morrison. Meu receio anterior, de não encontrar visitantes por ser um sábado ainda cedo, cai por terra.

Lápide de Jim traz grafada a frase
“Kata Ton Daimona Eaytoy“, algo
semelhante à “Queime seu
demônio interior”.
Muitos estão diante da sepultura, enquanto uma guia conta curiosidades da vida do vocalista do The Doors, assim como fatos que envolvem seu sepulcro. As grades que mantêm os visitantes e fãs longe do túmulo estão sempre cercadas das mais diversas histórias e comentários. “Foi um libertino!”, dizem alguns, enquanto outros o colocam como grande estrela do rock ou até como um amigo de tempos atrás.

Procurando saber quais sensações o mítico local desperta, fico à espreita tentando perceber quem são os fãs de Morrison. Aproximo-me de uma pessoa que, com uma máquina profissional, capta fotos da multidão curiosa e ao mesmo tempo enlevada. Pergunto-lhe sobre o efeito que Morrison, mesmo depois de morto, ainda causa nas pessoas. “Visitando o túmulo de Jim Morrison é interessante ver o quanto as pessoas ainda são movidas pela música e letra do The Doors”, observa Maarten van Cleef, holandês de Amsterdam.

No instante seguinte, encontro um jovem casal que está bem próximo do jazigo. Respeito seu breve momento de contemplação e repito a pergunta. “Nós nos sentimos como se estivéssemos tocando uma lenda. Um pouco tristes, mas com uma sensação deslumbrante”, respondem os russos Irina e Maxim Kiseler.

Marc define sua visita ao túmulo de Morisson
uma mescla de alegria e tristeza.
Converso ainda com uma senhora e um adolescente franceses, mãe e filho, que também demonstram emoção ao falar do ícone. “Eu sinto uma tristeza, mas por outro lado uma alegria”, resume antiteticamente Chevalier Marc, de 16 anos.

Mais alguns minutos e vejo um senhor que, ao lado da esposa, usa o celular para fotografar os vários ângulos do túmulo. Mais uma vez, pergunto o que sentem. “Jim foi um amigo a um longo tempo atrás, eu precisava ver onde ele ficou. Adios, rei Lagarto”, se despede ternamente Andie Coyote, aludindo à música e à história do psicodélico quarteto californiano.

Outro casal me chama atenção, vou atrás deles. São estadunidenses e ambos se prontificam a falar algumas palavras. “Vejo você do outro lado, irmão”, diz Nate, 35. “Estou entristecida com a perda de um gênio”, remata Tara, de 41 anos.

No final do século XIX, ainda sem Oscar Wilde e Jim Morrison, outro túmulo tirava o sossego do cemitério
Père Lachaise. Era o sepulcro do jornalista Victor Noir, assassinado em 1870 por Pierre Napoleón Bonaparte,
primo do então imperador. Em sua tumba, uma escultura que o representava morto causou agitação no cemitério,
pois criou-se a lenda de que a mulher que passasse a mão no pênis da escultura teria uma vida sexual feliz.
À época, seu túmulo estava cercado por grades, como hoje acontece com o de Jim Morrison. 
SAIBA MAIS
  • James Douglas Morrison nasceu na Florida, EUA, em 1943, e morreu em 1971, em Paris, França. Foi Poeta e vocalista do grupo The Doors, com o qual ficou conhecido por suas letras e irreverência;
  • Fundado em 1965, em Los Angeles, Califórnia, o The Doors era formado por Jim Morrison (vocal), Ray Manzarek (teclados), John Densmore (bateria) e Robby Krieger (guitarra);
  • O nome do grupo veio do livro de Aldous Huxley “The Doors of Perception” (As Portas da percepção) que, por sua vez, teria encontrado inspiração no verso de um poema de William Blake;
  • Aberto em 1804, o cemitério Père Lachaise é o maior de Paris e também o que abriga o maior número de famosos, entre eles, Frédéric Chopin, George Bizet, Honoré de Balzac, Oscar Wilde, Edith Piaf, Allan Kardec e Auguste Comte.


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