Burocratização da cultura em Mogi Guaçu
A criação de um Sistema Municipal de Cultura é apenas mais uma ação paliativa que, longe de democratizar a cultura, a burocratiza.
A burocracia, segundo Weber, "é a organização eficiente por excelência e para conseguir a eficiência". Atualmente, um conceito que flerta com a ironia. |
No feriado do dia 7 de setembro a cidade de Mogi Mirim recebeu uma atração de peso que reuniu mais de 40 mil pessoas no Complexo Lavapés. O ex-Titãs Nando Reis, mesmo em noite não tão inspirada, alegrou a um público imenso, digno dos grandes concertos de rock and roll. Em contrapartida, Mogi Guaçu contou com uma programação morna e pouco empolgante, composta basicamente por um desfile cívico e outras atividades com pouco apelo popular. Em dias em que a Cultura voltou a ser destaque por aqui, com a promoção da semana de discussões mediada pelo atual secretário de Cultura de Mogi Guaçu, José Edenilson Faboci, entre os dias 22 e 26 de agosto, as discrepâncias de entretenimento entre estes municípios coirmãos acentuaram-se a toda vista e se fez refletir sobre tantas diferenças.
É prudente relevar as diferenças econômicas entre as duas cidades, sobretudo, o momento político de cada uma. Entretanto, os motivos que distanciam abruptamente duas realidades – não somente no âmbito cultural – vão muito além de questões financeiras. Na tentativa frustrada de traçar novos rumos para a cultura guaçuana, Faboci trouxe à tona a criação de um Sistema Municipal de Cultura, o qual deve ser insurgido com o pressuposto de integrar a sociedade nas deliberações sobre as atividades culturais guaçuanas. A intenção, ao primeiro olhar, parece nobre e providencial, porém, em análise mais aprofundada, mostra-se apenas como mais uma ação paliativa que, longe de democratizar a cultura, a burocratiza. Ao não comparecer às reuniões, é inegável que a população também não cumpriu com seu papel, mas isso não isenta a responsabilidade da atual gestão na realização de eventos tão fracos. Com exceção da Virada Cultural, sediada em Mogi Guaçu, em maio passado, custeado pelo Governo Estadual, muito tem sido feito para entreter os guaçuanos, mas quase tudo com pouca relevância e atratividade.
Alegar falta de recursos em um país que oferece inúmeras leis e programas de apoio à cultura – Lei Rouanet (Pronac), Lei do Audiovisual, Proac, entre tantos outros – não é coerente e muito menos serve de desculpa. Em reunião realizada no último dia 25 de julho, entre Faboci e o gestor cultural Christiano Nogueira, o secretário admitiu não ter pessoal capacitado para trabalhar na captação de verba através dos programas supracitados e tão menos para atuar na organização e execução de eventos. Na oportunidade, o próprio gestor garantiu ao secretário ter totais condições de assessorar e desenvolver a gestão cultural na cidade, entretanto, a aparente vontade de lançar nova luz à cultura guaçuana mais uma vez esbarrou nas infindáveis barreiras impostas pelo Governo atual. Se Max Weber vivesse nos dias de hoje e se deparasse com a realidade do “preencha essa ficha”, na qual tudo é submetido a sucessíveis processos (complexos) para que possa vir a acontecer, talvez o economista jamais tivesse definido a burocracia como sinônimo de organização e eficiência, preferindo mantê-la com o seu condizente caráter pejorativo.
Em um país onde quase tudo termina – e também começa – em filas e formulários, é preciso abandonar zonas de conforto, sem abrir mão de uma generosa dose de boa vontade. Essa é a fórmula ideal que promove mudanças. Impassível defronte ao sistema, o esforçado secretário promove a cultura guaçuana a passos lentos e ainda blinda a secretaria contra entidades – terceiro setor – que podem prestar assessoria na gestão cultural e auxiliar na profissionalização e qualificação do entretenimento e lazer na cidade. Diante dessa premissa engessada, a mudança emergencial de postura seria um bom começo para que nossa gente, em busca de lazer e cultura de qualidade, não seja obrigada a procurá-los na casa de nossos vizinhos.
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