Há mais de duas décadas encantando o público, a “Roda da Feira” é patrimônio cultural de Mogi Guaçu (Foto: Tarso Zagato) |
Encontro comemorativo
aconteceu neste domingo (2), na tradicional “Feira de Domingo” de Mogi Guaçu.
A “Roda da Feira”, encontro de
capoeiristas que acontece no último domingo de cada mês, na tradicional “Feira
Popular de Domingo”, em Mogi Guaçu (SP), completa 24 anos neste mês. Para
comemorar a data especial, praticantes da luta – genuinamente brasileira – se
reuniram mais uma vez para a apresentação de jogos nos tipos angola e regional, e
também para a execução de saltos acrobáticos e muita música.
O encontro, segundo o estudante de
História e professor graduado de capoeira, Guilherme Arengui, alude não só ao
Dia do Capoeirista, comemorado em 2 de agosto, como também à assinatura da Lei
Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, e à semana de libertação
definitiva dos escravos, marcos importantes para os capoeiristas e para a
história do Brasil.
“Infelizmente, a grande massa não se
atenta para o lado histórico-cultural de uma apresentação de capoeira, pois
isso também está presente em alunos que, de certa forma, não se importam com a
tradição dessa arte. Para muitos, a Roda da Feira trata-se apenas de uma
apresentação, mas ela também evidencia a cultura viva e a manifestação de um
povo que usava a capoeira para sua sobrevivência”, argumenta.
Arengui explica ainda que a “Roda da
Feira” já se tornou patrimônio cultural imaterial de Mogi Guaçu e, portanto,
deve ser prestigiada e preservada pelos praticantes locais e pela população em
geral. “É de suma importância mantê-la viva, pois através dela podemos representar
todo tipo de sofrimento e sangue derramado pelos nossos ancestrais escravos,
que a usavam em prol da liberdade própria e na busca pelos direitos de
igualdade”, enfatiza o professor.
Ocorrido ontem, o
evento reuniu alunos, instrutores, professores e mestres de toda a região. As
atividades tiveram início às 10h, e foram conduzidas pelo folclórico mestre
Joanito Baiano, um dos mais conhecidos e respeitados do país, e pelo guaçuano Rafael
Lisboa Pinafo, o popular “Mestre Cabeça”.
Patrimônio
Cultural Imaterial
A capoeira é uma expressão cultural
brasileira que mistura arte marcial, esporte, cultura popular e música.
Desenvolvida no Brasil, sobretudo por descendentes de escravos africanos, é
caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando,
principalmente, chutes e rasteiras, além de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas,
acrobacias em solo ou aéreas.
A modalidade é reconhecida pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio
cultural imaterial do Brasil e ostenta uma história que se confunde com a do
próprio país.
A partir da esquerda: mestres Cabeça e Joanito Baiano, e o professor graduado Guilherme Arengui: “Roda da Feira deve ser mantida viva” (Foto: Divulgação) |
Criada por uma necessidade de defesa,
foi a arma mais importante na luta contra a escravidão. Após a abolição da
escravatura, em 13 de maio de 1888, a capoeira foi colocada no Código Penal
Brasileiro, em outubro de 1890, sob a Lei 847, de Sampaio Ferraz. O texto do
Capítulo XIII, à época intitulado “Dos vadios e capoeiras”, proibia a prática
da “Capoeiragem”, termo pejorativo utilizado para denominá-la.
“[É proibido] fazer nas ruas e praças
públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação
Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir
lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou
incerta, ou incutindo temor de algum mal”, implicava o extinto texto, que
previa ainda pena de dois a seis meses de trabalhos forçados na Ilha de
Fernando de Noronha.
Somente 50 anos depois, após a
reformulação da capoeira pelo Mestre Bimba, a então malquista prática cultural
foi retirada do Código Penal Brasileiro e reconhecida como esporte nacional.
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