Em bate-papo com o L&C, o
secretário municipal Luiz Carlos Ferreira defende cultura de qualidade em Mogi
Guaçu, mas admite falta de público no Centro Cultural.
O Estado garantirá a todos o pleno
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes de cultura nacional, e
apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais,
[garantindo ainda a] democratização do acesso aos bens de cultura. A prerrogativa,
recorte literal do Artigo 215 da Constituição brasileira, deveria prenunciar
cidadãos culturalmente preenchidos e enlevados por eventos de grande magia e
substância. Deveria. A realidade, obviamente, desmente o que o texto promete,
sobretudo quando a análise do enunciado é norteada pela generalização.
Vencer a burocracia e criar um público que frequente o Centro Cultural são os objetivos principais do secretário de Cultura, Luiz Carlos Ferreira (Fotos: Tarso Zagato) |
No Brasil, a cultura sobra na mesma
proporção em que vagam cadeiras para um público que não a consome. É o que se
vê em muitos municípios, inclusive em Mogi Guaçu, aponta o secretário municipal
de Cultura, Luiz Carlos Ferreira. Segundo ele, a cidade oferece cultura de
qualidade para uma clientela notadamente pequena, ainda em formação. Da
burocracia ao ar-condicionado, os desafios são muitos, mas competem com a
aparente boa vontade da pasta em gerir a cultura de forma competente e
qualitativa. Segundo Ferreira, são passos curtos, mas que não cessam nunca.
L&C:
Como o Senhor enxerga a cultura em Mogi Guaçu? O guaçuano tem cultura de
qualidade?
Luiz
Carlos Ferreira: Diante das dificuldades que nós estamos
enfrentando, o guaçuano tem cultura de qualidade, mas não tem acesso a ela. São
poucos aqueles que acompanham a divulgação dos eventos através da imprensa
falada e escrita, principalmente a internet, e conseguem ter acesso a essa
cultura de qualidade. A maioria não sabe que existe porque ela não tem como
obter essa informação a respeito do que está acontecendo na área da cultura, o
que é uma falha da estrutura municipal e da cidade como um todo. Nós temos
poucos meios de comunicação que conseguem chegar ao público e informar que
determinados eventos culturais irão acontecer. Recentemente, nós tivemos a peça
“O Pequeno Príncipe”, um senhor de um espetáculo, e não havia mais do que 20
pessoas na plateia, infelizmente.
L&C:
O que a Secretaria de Cultura está fazendo para chegar neste público que não
tem acesso à informação da qual o Senhor fala?
Luiz
Carlos Ferreira: A primeira coisa que nós estamos fazendo
em relação a este problema é criar um público que comece a frequentar o Centro
Cultural.
L&C:
De que forma?
Luiz
Carlos Ferreira: Estamos usando as peças gratuitas que
são apresentadas semanalmente aqui [Teatro Tupec], que vêm a Mogi Guaçu através
de parcerias com o Governo do Estado e o Proac (Programa de Ação Cultural da
Secretaria de Cultura), especificamente para crianças e adolescentes, para
ensiná-los a usufruir e apreciar estes espetáculos. Uma parte significativa
dessas crianças não sabem nem como se comportar dentro de um teatro, então
temos que ensinar desde o momento em que elas entram no teatro até a hora certa
de aplaudir. A preocupação maior é criar e educar essa plateia para que,
futuramente, já adulta, ela possa ser uma frequentadora assídua dos espetáculos
no Centro Cultural e em outros locais que ofereçam eventos culturais.
Paralelamente a essa formação, nós tentamos divulgar a programação nas redes
sociais, onde sempre disponibilizamos a agenda cultural atualizada.
L&C:
Devido a essas ações de educação – ou reeducação – cultural, o Senhor tem
percebido um aumento de público no Tupec?
Luiz
Carlos Ferreira: Sim, temos percebido que aumentou. Por
exemplo, mantemos uma parceria com a Mahle que é o “Dança e Cidadania”, que já
existe há 15 anos. São professores de Campinas que vêm aqui duas vezes por
semana dar aulas de ballet clássico. Antes, esse curso funcionava na escola
Marcia Risola Falsetti e atendia só as crianças do Jardim Chaparral. Como
começou a ter muita procura, o curso foi centralizado no Centro Cultural para
que todas as pessoas da cidade tivessem acesso e foi através dele que nós
percebemos o aumento de frequentadores no Tupec. O curso também promove
apresentações no teatro e acaba gerando o interesse dos alunos e também dos
pais, que passam a ver não só as apresentações de ballet clássico, mas também
outros espetáculos que ocorrem aqui.
L&C:
Há pouco o Senhor citou o Proac, que é um programa estadual de incentivo à
cultura. Por que a Secretaria não tem uma equipe específica e especializada
para trabalhar na captação de recursos oferecidos neste e em outros programas
capazes de viabilizar mais e melhores espetáculos para Mogi Guaçu? Qual é a
resistência da Secretaria ou da Prefeitura em ter um pessoal especializado
nesta área?
Luiz
Carlos Ferreira: Na realidade, não é só a Secretaria de
Cultura que não tem essas pessoas especializadas, mas sim, todas as empresas de
Mogi Guaçu e região. Você vai até uma empresa pedir patrocínio para algum
evento no Centro Cultural e ela até participa, mas, antes, quer saber das leis
para abatimento do imposto de renda, e nós não temos pessoas capacitadas para
orientá-las em como fazer isso. Se você quiser alguém que entenda disso,
precisa pegar pessoas de fora e é o que muitas empresas estão fazendo.
O Tupec é um dos maiores e melhores teatros da região, mas sofre com as “piadas artísticas” pela ausência de ar-condicionado. |
L&C:
E não convém à Secretaria de Cultura, por meio da Prefeitura, contratar uma
assessoria externa capaz de fazer esse serviço?
Luiz
Carlos Ferreira: Infelizmente, nós assumimos em 2013 em
uma situação muito delicada. A parte burocrática que forma a Secretaria de Cultura
não foi concluída e toda a estrutura que deveria ser registrada para formalizar
a Secretaria em Mogi Guaçu também não foi feita. Era algo que precisaria ser
feito e nós fizemos, praticamente finalizamos essa burocracia toda. Organizamos
toda a papelada e fizemos um plano decenal, ou seja, um plano de ação para a
Secretaria de Cultura que irá permanecer por 10 anos, sem que ninguém possa
alterar nada.
L&C:
Mas esse plano passará a valer a partir de quando?
Luiz
Carlos Ferreira: Todas as ideias já estão no papel e,
agora, para agilizar, nós vamos sentar com o prefeito e todos os vereadores
para explicar essa nova estrutura proposta para a Secretaria de Cultura. Depois
disso, o projeto deverá ser encaminhado pelo prefeito à Câmara para votação.
Aprovado o projeto, ele já estará valendo e, assim, nós encaminharemos toda
essa parte burocrática à Secretaria do Estado e ao Ministério Público. Com a
Secretaria devidamente cadastrada, passaremos a ter um CNPJ.
L&C:
O que permitirá que vocês mesmos incentivem projetos culturais por meio de
dedução fiscal.
Luiz
Carlos Ferreira: Exatamente. Na hora que nós
estruturarmos essa parte burocrática e estivermos registrados no Ministério da
Cultura, teremos um CNPJ. Só por meio dele nós podemos conseguir recursos de
leis de incentivo à cultura e verbas para, por exemplo, reformar o Centro
Cultural ou Museu no Parque dos Ingás, na antiga delegacia. Acredito que esse
processo vai levar mais um ano, mas isso depende da agilidade do prefeito e da
Câmara.
L&C:
Saindo da estrutura
burocrática da Secretaria e partindo para estrutura física do Centro Cultural,
o teatro tem uma ferida difícil de cicatrizar...
Luiz
Carlos Ferreira: O ar-condicionado (risos). Na
realidade, não é só o teatro de Mogi Guaçu que não tem ar-condicionado, mas
também vários outros da região. O problema é que aqui, quando o artista chega,
ele tem a impressão que o teatro está completo, principalmente por seu tamanho
e capacidade. Para colocarmos o ar-condicionado que foi planejado para o Centro
Cultural, teríamos que suspender as apresentações no teatro por uns oito meses,
porque é uma tubulação enorme que vai por cima do forro e passa pelos
camarotes, pelo palco e camarins.
L&C:
Então não é um projeto previsto para curto prazo?
Luiz
Carlos Ferreira: Não. Acredito que vai levar muito tempo
para isso acontecer. Quando nós tivermos um outro Centro Cultural para que nós
possamos paralisar aqui, então, acredito que aconteça. Porém, nós estamos
estudando a possibilidade, que é uma parceria do Tupec com empresas da cidade,
de instalar um ar-condicionado provisório. Está faltando apenas a resposta de
uma empresa para concluirmos o valor. O equipamento fica em torno de 180 mil
reais, porque teremos que comprar, também, um gerador de energia, que é o mais
caro.
L&C:
E há uma previsão para que isto seja concretizado?
Luiz
Carlos Ferreira: Se esta empresa nos responder logo, eu
acredito que para o próximo verão já tenhamos o ar-condicionado instalado.
L&C:
Como o Senhor sabe, esta é a edição de lançamento do Jornal Letra e Cultura, o
primeiro do gênero em Mogi Guaçu. O que a cidade ganha em ter um jornal
especializado única e exclusivamente em cultura?
Luiz
Carlos Ferreira: É de fundamental importância. Ter um
jornal falando especificamente de cultura permite que um número significativo
de pessoas tenha acesso à informação cultural de qualidade sem ter que pagar
por conteúdos que não lhe interessa, como polícia, política ou coluna social.
Esse leitor passará a ter um meio de comunicação que terá tudo o que ele quer. Por
isso, eu acredito que esse jornal vem trazer algo novo e fundamental não só
para Mogi Guaçu, mas, de alguma forma, para a nossa microrregião, que,
fatalmente, acabará sendo alcançada por este veículo.
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