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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Artigo: Por uma inspiração

Dentro de ônibus, em um trajeto pouco convencional em minha vida, busco uma inspiração para a difícil tarefa de escrever para o jornal Letra e Cultura que acaba de nascer em formato impresso. Um periódico dedicado à cultura? Pura resistência! Resistência que se imprime e que assinala um início, um confraternizar-se com tantos outros que não desistem de suas artes, que se dedicam aos seus sonhos.

Existindo em um paradoxo de, ao mesmo tempo, viver a plenitude do contato cultural, artístico e literário fora do Brasil, enquanto acompanho e lamento os desmanches culturais que se agravam em lugares do nosso país (nem vou explanar sobre a questão educacional), penso nas oportunidades e nas faltas de oportunidades. Nas diferenças que foram estabelecidas e naturalizadas. Nosso país ainda é controlado por corporações midiáticas que lançam produtos e modas com a finalidade de manipular e de formar consumidores ávidos por qualquer produto anunciado. Nesse misto de consumo desenfreado e de controle de mentalidades, o espaço da originalidade se esgota e o da criatividade se estreita. Tudo é produzido em série, pronto para ser levemente degustado e jogado fora rapidamente para dar espaço ao seguinte, quase idêntico ao anterior.

E como falar sobre Letra(s) e Cultura(s)? Continuo à procura de inspiração...

Em uma miscelânea de anseios, ainda um tanto confusos pela vontade de ampliar-se culturalmente, lembro-me de uma pergunta que me fizeram: Cultura para quê? Com um sorriso no rosto, enquanto viajava em meus pensamentos, respondi: Para viver! Hoje poderia ainda completar esse pensamento: Para viver, para se realizar enquanto sujeito, para se libertar!

Um indivíduo que vive a cultura enriquece-se de conceitos, experiências, originalidade, criatividade e liberdade. Coloca em si uma riqueza que não ocupa espaço, ao contrário, demonstra a possibilidade que temos de dilatar em nós os espaços culturais, em uma busca infindável por conhecer mais. E ninguém pode tirar, pois não é um objeto qualquer. Riqueza que não perdemos nem quando passamos o que aprendemos adiante, porque o ato cultural está permeado pelas trocas de constante aprendizagem.

Que a cultura permaneça! Que coletivos culturais se multipliquem, que artistas e literatos sejam incentivados em suas diversas formas de expressão para se autorrealizarem, para incitarem novos talentos, para que possamos sentir o gosto da arte, a luz da cultura.
Três horas da manhã, eu nessas rodovias e ainda sem saber sobre o que eu posso escrever...

SAMANTHA LODI é graduada em Comunicação Social e História, mestre e doutoranda em História da Educação pela Unicamp, presidente da Casa do Escritor de Mogi Guaçu e membro da Academia Guaçuana de Letras. Atualmente, reside na França, onde desenvolve pesquisas na Université de Rouen.

Um comentário:

  1. Mesmo "sem saber o que escrever", Samantha, você nos deixou um ótimo texto sobre Cultura. Também penso como você colocou: mais Cultura para viver, para ser livre, criar. Eu já havia lido o seu artigo no jornal Letra e Cultura e aproveito a oportunidade para parabenizá-lo pelo iniciativa. Grande abraço.

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