Holden Caulfield: o anti-herói predileto de toda uma geração. |
Uma carona a Holden Caulfield – Parte II
[...] Com toda aquela chuva que escurecia o dia e impossibilitava minha leitura – o lixão não tinha iluminação interna alguma – resolvi dormir, por preguiça mesmo, como todos os dias infernais que eu passava naquele ônibus. Até o momento, já havíamos percorrido uns três quilômetros, e ainda faltavam uns trinta e cinco para chegar ao velho colégio Springfield onde eu estudava. Era um bom colégio. Em outras épocas chegou a receber estudantes ilustres – algum dos Kennedys havia estudado lá, não sei qual ao certo; e também o Charles Manson, no duro. O cara foi o maior dos assassinos em série e de certa forma era bastante inteligente! – mas atualmente estava entregue às traças.
Interrompendo meu cochilo, ouvi novamente a voz irritante do moleque atrevido. Juro que aquilo me deixou realmente puto da vida.
- Meu nome é Holden. Holden Caulfield – disse-me parado à minha frente. Fiquei bastante aturdido com aquela apresentação, pois pensei que ele havia se zangado com a minha atitude esnobe ou coisa que o valha, e estava ali pronto pra me atacar! Fico nervoso em situações de briga, quase sempre travo, com qualquer um que seja, no duro – acho que sou o cara mais covarde do mundo, pode crer!
- Estou com um pouco de dor de cabeça, por isso não lhe dei atenção – continuou o frangote! Desconcertado, pensei em como estava sendo infantil e mal-educado desde que entrei no ônibus. Não que ele tivesse se transformado em um anjo, nada disso. Mas ele havia me cumprimentado de uma forma amistosa e, ademais, se desculpara humildemente. Eu, até então, só o julgando e querendo lhe encher de porrada, mesmo sabendo não ter coragem para isso!
- J.D. Salinger – respondi com um pouco de remorso ofertando-lhe à mão para um cumprimento cortês.
- Sou o novo aluno de literatura de Stoneville – ele continuou.
Minha derrota agora era total e humilhante! Imagina só, perguntar a um estudante de literatura se ele conhecia George Orwell! Era como perguntar à mãe se ela conhecia seu filho!
Para tentar desfazer minha péssima imagem arrogante, prossegui o assunto perguntando-lhe o motivo pelo qual estava indo com o lixão para Stoneville, só para tentar ser simpático. Era caminho e tudo, porém, eu também não tinha mais nada para dizer.
- Por ser novo em Springfield aceitei pegar uma carona a convite do meu tio, o motorista – explicou-me apontado o dedo fino para o Sr. Jones. A essa altura, eu estava me sentindo pior ainda! – A partir de amanhã, quando já terei conhecimento do caminho até Stoneville, passarei a ir sozinho – concluiu ele.
Ele era universitário, coisa que eu jamais imaginaria. Eu odeio esses intelectuais universitários que adoram sentar em rodas de mesas de bar e ficar se gabando por entender de assuntos que quase ninguém entende. Não que eles não sejam inteligentes, não é isso. São bastante cultos e tudo mais. O problema é que não gosto mesmo deles, fora de brincadeira. Tudo neles me irritam! E o tal de Holden não devia ser diferente, embora estivesse sendo simpático sem eu saber o por quê. (continua...)
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