O general Castelo Branco apoderou-se do governo
brasileiro em março de 1964, dando início à ditadura civil militar. No entanto,
as tendências autoritárias e distantes de preocupações sociais, assim como
estiveram em latência no passado político brasileiro, perdurariam em meio às
consequências sociais da década de 1960. Neste contexto, as ações do coletivo
solidificaram-se como as únicas formas de cidadania e reivindicação social
diante da arbitrariedade e despotismo de líderes militares. Dessa forma, ainda que
o brasileiro carregue uma herança reivindicatória sólida e responsável por
avanços políticos e sociais, as mobilizações modernas são desencorajadas,
subtraídas de discernimento e criticidade e impulsionadas apenas por tendências
sociais.
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O pai do liberalismo John Locke (1632-1704) |
Aos olhos do filósofo contratualista John Locke,
é necessária a submissão da massa coletiva diante de um poder racional e bom devido ao estado de natureza egoísta e parcial vivido pelo homem. Entretanto, a
insurreição deve acontecer caso a liberdade, a segurança e a vida do indivíduo
social não sejam preservadas por esse poder soberano. Assim como proposto por
Locke, as mobilizações públicas dos brasileiros, ao longo da história,
colocaram-nos para além de receptores passivos de ações privadas e, dessa forma,
simbolizam contestações do regime, questionamentos salariais e civis, além de
frentes de resistência contra as juntas militares e a censura.
Todavia, o cenário reivindicatório brasileiro
tem sofrido mudanças e desencorajamentos, já que as mobilizações coletivas
perdem sua frequência e especificidade. Tal afirmação pode ser verificada ao se
estabelecer um paralelo de semelhanças entre o movimento dos “Caras Pintadas” e
as paralisações de 2013, uma vez que, embora ambas tenham sido movimentos de
clamor nacional, as contestações eram amplas e fluídas em criticidade nos
motivos de protesto. Com maior visibilidade, as mobilizações coletivas sofrem
impulsos de tendências sociais, levam grandes números às ruas, mas
liquefazem-se pela falta de ideologias concretas, projetos de mudanças e
organização.
Os sujeitos político-sociais brasileiros têm,
portanto, suas memórias reivindicatórias difusas e agem em mobilizações
modernas como se as não tivessem. A fim de que o passado de revoltas, protestos
e greves do brasileiro não se restrinja aos livros de história, é necessário
que a sociedade repense as ideologias e as propostas de cada mobilização,
buscando criticidade e consistência em sua militância. Ademais, a mídia deve
contribuir para reavivar a solidez de ações coletivas engajadas e, em conjunto
com as instituições escolares, fortalecer e investir em movimentos como fóruns,
debates e seminários, priorizando sujeitos políticos e não personagens de uma
estória sem substância e coerência.
Texto produzido pela pré-vestibulanda Paola Mantovani.
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