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quarta-feira, 29 de abril de 2015

“Roda da Feira” completa 23 anos de capoeira, histórias e cultura popular

Encontro comemorativo acontece no próximo dia 10, na tradicional “Feira de Domingo”.

Há mais de duas décadas encantando o público, a ´´Roda da Feira``
é patrimônio cultural de Mogi Guaçu (Foto: Divulgação)
A “Roda da Feira”, encontro de capoeiristas que acontece no último domingo de cada mês na tradicional “Feira Popular de Domingo”, no Parque Cidade Nova, em Mogi Guaçu (SP), completa 23 anos de existência no próximo dia 10. 

Para comemorar a data especial, praticantes da luta – genuinamente brasileira – se reunirão mais uma vez para a apresentação de jogos nos tipos angola e regional, e também para a execução de saltos acrobáticos e muita música.

O encontro, segundo o estudante de História e professor graduado de capoeira, Guilherme Arengui, alude à assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, e à semana de libertação definitiva dos escravos, marcos importantes não somente para os capoeiristas, mas também para a história do Brasil.  

“Infelizmente, a grande massa não se atenta para o lado histórico-cultural de uma apresentação de capoeira, pois isso também está presente em alunos que, de certa forma, não se importam com a tradição dessa arte. Para muitos, a Roda da Feira trata-se apenas de uma apresentação, mas ela também evidencia a cultura viva e a manifestação de um povo que usava a capoeira para sua sobrevivência”, argumenta.

Arengui explica ainda que a “Roda da Feira” já se tornou patrimônio cultural imaterial de Mogi Guaçu e, portanto, deve ser prestigiada e preservada pelos praticantes locais e pela população em geral. “É de suma importância mantê-la viva, pois através dela podemos representar todo tipo de sofrimento e sangue derramado pelos nossos ancestrais escravos, que a usavam em prol da liberdade própria e na busca pelos direitos de igualdade”, enfatiza o professor.

Com início previsto para as 10h, o evento reunirá alunos, instrutores, professores e mestres de toda a região. As atividades serão conduzidas pelo folclórico mestre Joanito Baiano, um dos mais conhecidos e respeitados do país, além do mestre guaçuano Rafael Lisboa Pinafo, o popular "Mestre Cabeça".

A partir da esquerda: mestres Cabeça e Joanito Baiano, e o professor
graduado Guilherme Arengui: ´´Roda da Feira deve ser mantida viva``
(Foto: Divulgação)
Patrimônio Cultural Imaterial

A capoeira é uma expressão cultural brasileira que mistura arte marcial, esporte, cultura popular e música. Desenvolvida no Brasil, sobretudo por descendentes de escravos africanos, é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos,  utilizando, principalmente, chutes e rasteiras, além de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias em solo ou aéreas.

A modalidade é reconhecida pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio cultural imaterial do Brasil e ostenta uma história que se confunde com a do próprio país.

Criada por uma necessidade de defesa, foi a arma mais importante na luta contra a escravidão. Após a abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888, a capoeira foi colocada no Código Penal Brasileiro, em outubro de 1890, sob a Lei 847, de Sampaio Ferraz. O texto do Capítulo XIII, à época intitulado “Dos vadios e capoeiras”, proibia a prática da “Capoeiragem”, termo pejorativo utilizado para denominá-la. 

“[É proibido] fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal”, implicava o extinto texto, que previa, ainda, pena de dois a seis meses de trabalhos forçados na Ilha de Fernando de Noronha.

Somente 50 anos depois, após a reformulação da capoeira pelo Mestre Bimba, a então malquista prática cultural foi retirada do Código Penal Brasileiro e reconhecida como esporte nacional.

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