Segundo a teórica Rafiza Varão, banda promoveu
uma revolução cultural e ajudou a difundir valores comuns para jovens de
diversas nacionalidades.
O cínico, o cômico, o excêntrico e o baby face: os Beatles (Reprodução) |
Ultrapassar a barreira do tempo e do
espaço pode estar entre os grandes desafios da humanidade. Mas não para aquela
que é considerada por muitos a maior banda de todos os tempos: os Beatles. Com
13 discos de estúdios lançados ao longo de oito anos – há mais de 50 anos –
John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr são até os dias
atuais fonte de influência musical e comportamental para todas as gerações, nos
quatro cantos do mundo. O ex-integrante da banda Paul está no Brasil com a
turnê “Out There” para apresentações em Vitória, São Paulo, Rio de Janeiro e,
pela primeira vez, na capital, Brasília.
“Os Beatles não são apenas atuais. Em
termos musicais, eles são eternos”, resume o professor do Departamento de Música
da Universidade de Brasília, Sérgio Nogueira – há tempos um estudioso do
quarteto de Liverpool. “E, na medida em que foram ultrapassando fronteiras,
caindo como bomba nos EUA e invadindo tanto o Ocidente como o Oriente,
obtiveram, como polemizou Lennon, uma popularidade maior que a de Jesus”,
acrescentou.
De acordo com a professora de Teoria e
Tecnologia da Comunicação da Universidade Católica de Brasília, Rafiza Varão,
além de ser a primeira banda cujo sucesso atingiu proporções mundiais, os
Beatles estão entre os primeiros músicos responsáveis por fazer com que o culto
às personalidades passasse a permear o imaginário do público, utilizando os
meios de comunicação como poderosos aliados.
"Os Beatles não são apenas atuais. Em termos musicais, eles são eternos", resume Sérgio Nogueira (Reprodução) |
Segundo Sérgio Nogueira, uma sequência
de acasos fez dos Beatles a maior banda da história: “em primeiro lugar, o
acaso da natureza, que juntou pelo menos duas pessoas com genialidade muito
acima do normal”, disse referindo-se aos aspectos “diferentes e complementares”
de Lennon e McCartney. “Lennon era rebelde, sofrido e com problemas familiares;
Paul vinha de uma família equilibrada e tinha um pai que era músico amador e
ouvia boa música. Cada um trouxe elementos diferentes que resultaram em uma
terceira coisa, que ia além do simples somatório dessas duas partes”, explicou
Nogueira à Agência Brasil. “E, para melhorar ainda mais, tinha George Harrison
com seus arranjos e, posteriormente, boas composições”.
O outro acaso citado pelo professor está
relacionado ao momento histórico em que os Beatles surgiram. “Foi um momento
primordial da história da música, com quebras de paradigmas em relação à música
do passado e com a música pop ascendendo e superando barreiras”. Por meio dos
Beatles a indústria fonográfica descobriu, nesse estilo musical, um novo e
lucrativo filão.
Rafiza Varão explica que a banda
representou, para a indústria fonográfica, o início da fase de ouro da
comercialização de discos de vinis e compactos, vendendo bilhões mesmo depois
de seu fim. “A banda acabou virando um patrimônio da cultura mundial e hoje é
impossível pensar a cultura do século 20 sem pensarmos nos Beatles”, disse ela.
“A banda trouxe uma revolução cultural, em que jovens da classe média baixa
inglesa começaram a se expressar mais comumente por meio da música popular que
aparecia naquele período, construindo valores para uma juventude que não mais
consumia apenas a cultura local. Com isso, ajudaram a difundir valores comuns
para jovens de diversas nacionalidades: formas de dançar, vestuário, relação
com os músicos, sentimentos em relação ao amor”, acrescentou a professora.
Para Sérgio Nogueira, a banda não foi
exatamente o catalisador de uma nova forma de comportamento, mas o símbolo que
deu dimensão a uma forma de comportamento que já vinha se estabelecendo. “A
cena já vinha acontecendo. Mas com toda a certeza eles deram uma dimensão muito
maior para elementos da cultura da época. A principal postura influenciada por
eles, que perdura até hoje, está relacionada à crítica às fórmulas de relações
hierárquicas na família e no governo”.
A banda representou, para a indústria fonográfica, o início da fase de ouro da comercialização de discos de vinis e compactos, diz Rafisa Varão (Reprodução) |
Se na época os Beatles representavam uma
afronta aos pais, atualmente, o gosto pelas músicas da banda passa de pai para
filho. Principalmente quando se tem a chance de assistir ao show de um deles.
Até a escolha de profissões foram
influenciadas pela música dos Beatles. “Eles representaram um estouro na minha
vida. Cheguei profissionalmente onde cheguei graças ao impulso dado por eles”,
disse o professor do Departamento de Música da UnB. “Eu não tinha envolvimento
com música até meu irmão comprar dois discos deles. Na primeira vez que ouvi,
me veio uma sensação visceral de força muito intensa. Ao sentir isso, me
despertei. Aos poucos fui crescendo musicalmente, seguindo o que eles estavam
fazendo. Evolui junto com eles e sou fruto de uma semente plantada por eles. E
segui o caminho deles para aprender junto. Só depois fui me interessando por
outras coisas, como jazz erudito. Mas os Beatles continuam me tocando
profundamente. A mim e a muitos como eu”, disse Nogueira.
História similar tem o músico
profissional Fábio Pereira, 44. “Foram eles que fizeram com que eu me tornasse
um músico profissional”, disse o músico e professor de bateria. Para dar vazão
à paixão que tem pelo quarteto, ele integra a banda Friends, que faz covers do
grupo. “Os Beatles representam uma química perfeita entre quatro seres humanos,
juntando dois baitas compositores com um guitarrista técnico que, influenciado
pelos companheiros, se tornou também um grande compositor. Completando o time,
um baterista que apesar das limitações deu identidade própria à música do
grupo. Aquela era a bateria da música”, disse Fábio à Agência Brasil.
O que mais o impressiona na música dos
Beatles é a quantidade de músicas boas, tanto no aspecto melódico como nas letras
e arranjos harmônicos. “Eram muito avançados para a época”, disse ele. “Os
Beatles conseguiram gravar uma quantidade enorme de músicas boas, tendo apenas
oito anos de discografia [13 discos, entre 1962 e 1970]. Eles inovaram para além
do iê-iê-iê que os lançou. McCartney disse em livro que, no início, eles faziam
música pensando em vender, mas depois começaram a sair dessa inocência e
explorar letras mais introspectivas. Com isso, após um amadurecimento grande e
rápido, os Beatles consagraram e tiveram seu auge criativo entre 1965 e
1967", completou.
*Com informações da Agência Brasil.
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